Não sei se o tirocínio de dois passarinhos, ou a praga do “monge” da Lapa, são os responsáveis pela cidade que temos hoje.
Esta Princesa, destronada e desencantada a coitada, surgiu como pouso de tropeiros, que cansados da longa viagem de Vacaria à Sorocaba, com a bunda doendo de tanto ficar sentado no lombo de jumento, e querendo encontrar um cantinho quente pra dormir alguns dias e a vacarada pastar.
Como sempre ocorre, um ou outro tropeiro encontrava um rabo de saia e aqui ficava, comprando uma terrinha ali, outra aqui, montando uma vendinha aqui, uma pensão acolá, e ganhando dinheiro com a tropeirada que passava por aqui.
Um desses tropeiros, conhecido por aí como Miguel, grande dono de terras na região, resolveu doar um pedacinho para o início do povoado, mas esperto que só ele, doou aquele pedaço de terra mais alto, mais duro, e onde se plantava nada dava, um lugarzinho tão ruim, mas tão ruim, que nem os bois eram capazes de subir pra pastar. Mas, como não olham os dentes de cavalo dado, os pioneiros da cidade aceitaram.
Ocorre que, depois que o tal Miguel doou o terreno pra construção do vilarejo, começou uma briga, de facão, faca, garfo, e até palito de dente, pois cada fazendeirinho queria que a igrejinha ficasse perto da sua fazenda, certamente por preguiça de andar um pouquinho pra rezar. Pra acabar com a confusão, resolveram soltar duas pombinhas, e onde estas pousassem seria erguida a igreja. As duas sem-vergonhas das pombas, foram pousar no ponto mais alto das terras doadas pelo Miguelito, em cima de uma figueira, palmeira, cinamomo, ou cruz (cada versão da lenda trás uma árvore diferente), acredito que as malditas das pombinhas cagaram com gosto no local onde pousaram, iniciando assim as belas cagadas que se desenrolaram na Princesa dos Campos.
Anos mais tarde, apareceu por aqui um tal de “Monge João Maria”, e como o povo dessa cidade é educado e hospitaleiro que só vendo, quando o bem aventurado entrou na cidade, a criançada começou a tacar pedra no tal do monge andarilho, que soltou uma praga “Terra de gente ruim. Um dia quando as casas forem muito altas, o vento será tão forte que vai derrubar tudo, não deixando nada em pé, e aqui, nada irá pra frente. Vocês vão ver”.
Não sei se o tal vendaval já teve, ou se é o vento da Rua XV que bate todo dia e quase que a gente levanta vôo, mas sei que o tal do “Monge” sumiu, e nada nessa cidade vai pra frente. Nem inimizade.
Acho eu, que são os descendentes do tal tropeiro Miguel, os membros das "tradicionais famílias princesinas", gente de estirpe tão boa, que se denominam os "donos da cidade". Acredito que ainda andam à cavalo, cuidando do terreno, e não demora muito pedem usucapião de tudo, como donos e proprietários. Não é de espantar quando contam que um deles subiu no trator e gritou que Ponta Grossa tem dono.
Mas, muita gente ainda pensa que tem sangue aristocrata, tanto que, fazem de tudo pra sair em fotos ao lado de gente importante, e, nos jornais a primeira cosia que abrem é a Coluna Social (ou saciar?) para ver se não apareceram em nenhuma menção ou fotinha, nem que seja no fundo, atrás de algum grandão.
Ponta Grossa hoje, é uma cidade em que se derem duas tartarugas pro povo tomar conta, uma foge e a outra engravida. Nem dos pontos turísticos a cidade cuida, Vila Velha por exemplo, mudou de 18km do centro, pra 110 km de Curitiba.
Nossa Princesa é assim, pobre, sem trono, sem terra, sem dono. Ou foi a cagada das pombas, ou a praga do monge, uma ou outra. Só sei que sentimos o fedor e a mandinga até hoje, e não há quem limpe.